Saturday, October 16, 2004

Mais Festival do Rio (Balanço Final)

C'est fini! Graças a Deus! E olha que eu adoro festivais de cinema! Pero, no último dia do festival, eu já estava botando os bofes pra fora! (Literalmente!)

Falemos então de filme que é o que interessa.

O saldo final do festival é positivo. Vi, é claro, algumas porcarias, mas no geral, valeu a pena ter assistido a maioria.

Vou dar a lista completa e um comentário breve sobre cada um.

- Antes do pôr-do-sol, de Richard Linklater
- Casa de areia e névoa, de Vadim Perelman
- Central Al Jazeera, de Jehane Noujaim
- Código 46, de Michael Winterbottom (já fiz comentário anteriormente)
- O coração é traiçoeiro acima de todas as coisas, de Asia Argento
- Crimes em Wonderland, de James Cox (também já fiz comentário)
- As damas de ferro 2-Os primeiros anos, de Yongyooth Thongkonthun
- Escola da sedução, de Robert Salis
- Nascido nos bordéis, de Ross Kauffman e Zana Briski
- Nina, de Heitor Dhalia
- Os sonhadores, de Bernardo Bertolucci
- Tempestade de verão, de Marco Kreuzpaintner
- Um toque de rosa, de Ian Iqbal Rashid
- Torremolinos 73, de Pablo Berger
- Um dia sem mexicanos, de Sergio Arau
- Vera Drake, de Mike Leigh
- Você que eu amo, de Dmitri Troitsky e Olga Stolpovskaya (também já comentado)
- Whisky, de Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella

Comentários:

Vou começar com os que eu mais gostei. "Torremolinos 73", "Os sonhadores", "Nascido nos bordéis", "O coração é traiçoeiro acima de todas as coisas", "Antes do pôr-do-sol", "As damas de ferro 2", "Um toque de rosa", "Tempestade de verão", "Central Al Jazeera".

Cada um, a seu modo tem qualidades. Alguns são tocantes como "Tempestade de verão" e "Torremolinos 73", outros divertidos como "As damas de ferro 2" (esse é hilário!) e "Um toque de rosa", outros ainda chocantes "O coração é traiçoeiro acima de todas as coisas", outros que fazem pensar como "Nascido nos bordéis" , "Antes do pôr-do-sol" e "Central Al Jazeera" e outros ainda, pura fantasia e lirismo como "Os sonhadores" verdadeira declaração de amor a Nouvelle Vague.

"Torremolinos 73", conta a história de um casal em plena crise financeira, na Espanha pós-Franco. Ele, um vendedor de enciclopédia falido, ela, uma típica dona de casa espanhola. Um dia, recebem uma proposta do chefe dele. Fazer filmes pornôs caseiros (ele e a mulher) que serão vendidos na Escandinávia. Assustados, mas ao mesmo tempo, ansiosos por resolver seus problemas econômicos, eles acabam cedendo a tentação. O final é surpreendente! As atuações dos atores principais, Javier Câmara (o Benigno de "Fale com ela") e Candela Peña, são o ponto alto deste filme.

"Tempestade de verão", alemão, participou da mostra gay do Festival do Rio. Ótimo. O enredo é simples. Jovem remador alemão, inseguro à respeito de sua orientação sexual, cai de amores por seu melhor amigo. Numa viagem ao interior da Alemanha, para participar de uma competição de remo, ele conhece um time de remadores gays e daí em diante, há uma reviravolta em sua vida. A fotografia do filme é linda.

"As damas de ferro 2", tailandês. O que você acharia de um time de voleyball masculino composto exclusivamente por Drag Queens? O que você diria se este time fosse de verdade e que já foi até campeão nacional da Tailândia? Você acreditaria?
Pois foram essas perguntas que eu fiz à mim mesma antes de ver este filme. É absolutamente hilário! É a história real de um dos maiores times masculinos de voleyball da Tailândia, formado por Drag Queens! Tudo é explicado no filme como eles/elas se conheceram, porque decidiram se tornar jogadores/as de vôlei. Um barato!

"Um toque de rosa", anglo/canadense. Rapaz de origem paquistanesa vive feliz em Londres com seu namorado inglês. Só que ele não só convive com o namorado como também com o fantasma de Cary Grant! Cary é seu amigo de todas as horas, que dá conselhos, etc. Sua feliz vidinha matrimonial vai por água abaixo quando sua mãe resolve lhe fazer uma visita surpresa. Ela não tem a mínima idéia do que se passa na vida de seu filhinho querido. E o fantasma de Cary acaba mais atrapalhando que ajudando...

"O coração é traiçoeiro acima de todas as coisas", Estados Unidos. É uma tragédia. Uma tragédia americana sobre o homem comum. Baseado em fatos reais. Mas contada de forma inovadora e com atuações fantásticas. Jeremiah, um garotinho de 8 anos, é retirado de seu lar adotivo para viver com a mãe biológica. Um tipo "white trash" que namora caminhoneiros e punks. Nesse meio tempo, Jeremiah é iniciado no consumo de drogas por sua própria mãe, é molestado sexualmente por um de seus padrastos...Pesado, mas essencial para entender a cultura americana "white trash".

"Nascido nos bordéis", EUA/India. Documentário sobre crianças que moram na zona de prostituição de Calcutá (o famoso bairro da luz vermelha) todas elas, filhas de prostitutas. Uma fotógrafa americana resolve fazer um trabalho social com essas crianças e o resultado é surpreendente. A cada uma delas, ela dá uma câmera fotográfica, para que elas tenham uma nova visão da vida e possam superar sua própria realidade. Excelente.

"Antes do pôr-do-sol", EUA/França. Quem viu "Antes do amanhecer" tem que ver "Antes do pôr-do-sol", que não é mera continuação de "Antes do amanhecer" e sim um "e se eles se reencontrassem nove anos depois?" É uma delícia ver os dois protagonistas, Ethan Hawke e Julie Delpy, maduros e mais do que nunca, entrosados nesta linda história de amor.

"Central Al Jazeera", EUA/Egito. Documentário sobre a famosa rede de TV do mundo árabe, que graças às imagens transmitidas mundo afora, nos foi possível assistir ao horror da guerra do Iraque. Calcanhar-de-aquiles do governo americano, é imperdível e serve como denúncia sobre a censura e um libelo pela liberdade de imprensa.

"Os sonhadores", França/Itália/EUA. Lindo! Bertolucci continua sendo meu ídolo. O diretor dos diretores! (Eu decidi estudar cinema ao ver "O último imperador" há quase vinte anos. Pretensiosa!) "Os sonhadores" é uma verdadeira declaração de amor à Nouvelle Vague. Três jovens, um americano, e um casal de irmãos franceses, se trancam num apartamento em Paris durante a revolução de 68 e se entregam ao erotismo. Parece simples, mas não é. Cada fotograma foi pensado por Bertolucci. Belíssimo!

Filmes que considerei neutros (por isso serei brevíssima em meus comentários):

"Casa de areia de névoa", dramalhão americano, que tem como trunfo as atuações de Ben Kingsley e Jennifer Connelly. Pesado e lento.
"Escola da sedução", drama pseudo-intelectual francês que fala, fala, copula, copula e não chega a lugar nenhum. Jogos mentais, manipulação sexual...é só!
"Um dia sem mexicanos", dirigido pelo filho do Alfonso Arau (Como água para chocolate). Parece que talento, neste caso, não é hereditário. Ele até que usou um bom argumento, pero, muchacho...que saco! Resenha: mexicanos são abduzidos no estado da Califórnia. É isso.
"Whisky", não é ruim...só que falta ritmo. Lentoooooooo demais!

Filmes que não "dá, nem tentando":

"Nina", Guta (Grande família) Stresser dando uma de psicótica à la Crime e Castigo de Dostoiéviski (não sei se está certo) Dá um tempo!
"Vera Drake", fiquei decepcionadíssima. Primeiro, por que é um filme do Mike Leigh "Segredos e Mentiras", segundo por que ganhou prêmio de melhor atriz no festival de Veneza. Dramalhão. Cansativo. Opressivo e feio.

That's all folks! Thanks for tuning in!

Beijos, Lucy Lovely


Sunday, October 03, 2004


Cena de "Você que eu amo" Posted by Hello

Festival do Rio 2

Mais filmes...e quem é que resiste? Uma das piores coisas que podem acontecer durante um festival de cinema é você estar sem dinheiro. Porque as escolhas são muitas, o tempo é curto, e o discernimento nem sempre é infalível...Vejamos:

VOCÊ QUE EU AMO por Dmitry Troitsky, Olga Stolpovskaya

Um filme russo da mostra Mundo Gay. Interessantíssimo. Primeiro pela questão abordada. Homem conhece mulher. Homem se apaixona por mulher. Homem atropela homem. Homem se apaixona por homem. Mulher continua apaixonada por homem sem saber o que fazer. Já entendeu. Pois é, esta é a resenha de Você que eu amo. Parece simples, mas não é. Embora a Rússia tenha aberto suas portas a globalização e ao capitalismo, e muito embora os russos estejam longe de ser um povo puritano, a imagem do Kremlim, dos cossacos e da frieza associada aos russos, não se encaixam neste filme, ou então, toda esta frieza sempre foi fachada. "Você que eu amo" é acessível, caloroso e inteligente. Um filme a ser assistido e pensado. Algo como "qualquer maneira de amor vale a pena". E em pensar que este é o primeiro longa da dupla...Por que eles não vêm ao Brasil junto com o Kiarostami dar uns seminários sobre cinema? Seria ótimo.